quinta-feira, 25 de abril de 2024

'Fator rua' inibe o ímpeto de Moraes, avalia bolsonarismo



Ao arquivar o caso dos pernoites de Bolsonaro na embaixada da Hungria sem impor novas sanções cautelares ao hóspede, Alexandre de Moraes deixou em êxtase o bolsonarismo.

Após celebrar a novidade numa conversa com o próprio Bolsonaro, na tarde desta quarta-feira, um parlamentar aliado enxergou no encerramento do caso uma "autocontenção" de Moraes. Atribuiu a decisão do ministro do Supremo ao que chamou de "fator rua".

Nessa versão, os atos políticos realizados na Avenida Paulista, em fevereiro, e em Copacabana, no último domingo, teriam elevado o "custo político do cerco judicial" a Bolsonaro.

Repetindo um argumento que ecoa entre os bolsonaristas desde a Semana Santa, o parlamentar declarou que "falta coragem" a Moraes para impor a Bolsonaro um tratamento semelhante ao que vem sendo dispensado ao seu ex-ajudante de ordens.

"Encarcerar Mauro Cid é uma coisa. Outra coisa bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença", repetiu o congressista. "O barulho seria grande."

Moraes escorou sua decisão nos mesmos argumentos técnicos expostos em parecer da Procuradoria-Geral da República. Concluiu que não há evidências de que Bolsonaro buscou asilo na embaixada da Hungria. Portanto, não violou a medida cautelar que o proíbe de se ausentar do país.

Bolsonaro chegou à embaixada da húngara na noite de 12 de fevereiro e deixou o prédio no dia 14. Quatro dias antes, a Polícia Federal havia apreendido o seu passaporte.

Disseminou-se a percepção segundo a qual o capitão refugiou-se na embaixada para fugir de uma eventual orden de prisão, não para renovar contatos com autoridades da autocracia amiga de Viktor Orbán.

Ao segurar a caneta, Moraes sinalizou a intenção de customizar os seus embates conforme as especificações do cliente. Estimulou nos partidários do investigado mais ilustre a ilusão de que Bolsonaro realizará, em algum momento, a grande façanha de desfritar todos os ovos que a Polícia Federal levou à frigideira dos seus inquéritos.

Josias: Não dá para tratar animal como se fosse bagagem

 


Não se trata de uma fatalidade a morte do cachorro Joca ao ser transportado por uma companhia aérea, afirmou o colunista Josias de Souza no UOL News da manhã de hoje (24).

A Anac e o Ministerio de Portos e Aeroportos anunciaram no fim da manhã que vão investigar a morte do cachorro.

O que aconteceu

Joca deveria ser levado do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) para Sinop (MT), onde seu tutor o aguardava, mas foi parar em Fortaleza. Após a constatação do erro no destino do animal, ele retornou a Guarulhos, mas chegou morto no aeroporto em São Paulo.

Família acusa a Gol de negligência. ''Olha aqui, cachorro do meu filho, saiu para ir para Sinop, um irresponsável enviou ele para Fortaleza, não contente, mandaram de voltar sem nenhuma avaliação de um veterinário, o cachorro está aqui dentro, morto. Eles mataram um Golden de 4 anos'', relatou Marcia Martin.

O que diz a Gol

Em nota, a Gol informou que houve "uma falha operacional" no transporte do animal e disse lamentar o ocorrido. A empresa também afirmou que o cão recebeu cuidados, mas, "infelizmente, logo após o pouso do voo em Guarulhos, vindo de Fortaleza, fomos surpreendidos pelo falecimento do animal".

Gol também disse que instaurou sindicância interna para apurar o ocorrido. "A Companhia está oferecendo todo o suporte necessário ao tutor e a apuração dos detalhes do ocorrido está sendo conduzida com prioridade total pelo nosso time. Nos solidarizamos com o sofrimento do tutor do Joca. Entendemos a sua dor e lamentamos profundamente a perda do seu animal de estimação."

UOL News 1ª Edição com Fabíola Cidral, Josias, Sakamoto, Maierovitch e Thais Bilenky | ÍNTEGRA 25/04

 

quarta-feira, 24 de abril de 2024

Josias: Punição de Deltan por PowerPoint acusando Lula ocorre tardiamente

 


A punição contra o ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol pelo "caso do PowerPoint" contra o presidente Lula, em 2016, ocorre "muito tardiamente", disse o colunista Josias de Souza no UOL News da manhã desta terça-feira (23).

A ministra Cármen Lúcia, do STF, negou nesta segunda-feira (22) recurso para suspender a decisão que condenou Dallagnol a indenizar em R$ 75 mil o presidente Lula.

Relembre o caso

Em 2016, então chefe da força-tarefa da Lava Jato, Dallagnol fez uma apresentação de PowerPoint para acusar Lula, que era investigado pela operação, de chefiar uma organização criminosa. Posteriormente, os processos foram anulados após o STF considerar o ex-juiz Sergio Moro parcial na condução da investigação.

Em março de 2022, o STJ condenou Deltan Dallagnol ao pagamento de R$ 75 mil em danos morais a Lula. Na ocasião, Cristiano Zanin, ex-advogado de Lula e atual ministro do STF, questionou a conduta funcional de Dallagnol. Segundo ele, o ex-procurador e outros integrantes da Lava Jato usaram a apresentação de PowerPoint para acusar o ex-presidente de atuar como "comandante e maestro de uma organização criminosa".

Para o STJ, o ex- procurador usou termos desabonadores e linguagem não técnica em relação ao então ex-presidente.

Reinaldo: TikTok prova que EUA apelam à nacionalização por sua 'segurança'

 

'Frente Ampla' de Nunes em SP traduz a busca do centro impossível

 

Entre extrema direita e democracia, há um fascistoide em pele de cordeiro



Há um mal-estar no Brasil chamado "Síndrome da Falta do Centro". Parece um problema de física, eventualmente de metafísica, mas não! Falo sobre política. Em alguns setores, o que se tem ainda é saudade — e há muito de justeza nisto — do finado PSDB. PSDB? Vamos de Torquato Neto, que foi cantado pelos Titãs: "Mas de repente a madrugada mudou/ e certamente/ aquele trem já passou/ e se passou/ passou daqui pra melhor/ foi!". Talvez não tenha sido para melhor, mas que foi, ah, isso foi. Já era!

Essa nostalgia do "centro" é sentida de modo mais agudo em algumas áreas. Na imprensa, é muito frequente. Há certa dificuldade por ali em se pronunciar e em se admitir a palavra "direita". Ela ainda se confunde com palavrão, falta de educação, modos rudes, ódio aos pobres. Quando há uma exposição mais clara do ideário e quando se o submete à história das ideias, o diagnóstico é inequívoco: "direitismo". Mas ainda há relutância: "Não, eu sou 'de centro'. Parece mais delicado.

E, se há alguém que me acompanha até aqui e avalia que estou demonizando o "direitismo", bem, ou não está entendendo, ou não estou sendo suficientemente claro. Respeitados os fundamentos da democracia representativa e as garantias individuais e públicas — e isso, hoje, se traduz por acatar os fundamentos da Constituição (da nossa, não da de outros) —, os direitistas deveriam ter a coragem de assumir o que pensam sem receio.

Eu tenho problemas com as chamadas "palavras-caixa" ou "palavras-gaveta". Hoje, a mais abarrotada de coisas incompreendidas, generalizações, simplismos e bobagens é "polarização". O que se sabe, com certeza, é que é preciso superá-la, exorcizá-la, esconjurá-la... Os que mais a pronunciam, diga-se, como um marco a ser superado são os covardes e preguiçosos (com frequência, as duas coisas), sem coragem ou disposição para combater a fascistização da política empreendida por Jair Bolsonaro e sua súcia. E, por óbvio, neste ponto, já me tornei eu mesmo, segundo essa turma, um agente da... polarização! Então ela não existe? Sim. Mas qual?

QUAL POLARIZAÇÃO?
Não é difícil identificar o discurso e a prática de extrema-direita no Brasil. Mas ou a polarização se faz de dois polos, ou se tem um erro de registro. Ou me contam agora -- por favor, não deixem para depois e matem a minha curiosidade -- onde está a extrema-esquerda que tensiona com o bolsonarismo, ou se está diante de uma fraude conceitual. E por que isso é importante? Porque aquela "Síndrome da Falta do Centro" é alimentada também por essa falácia. A ilação é verossímil, sim; é crível. Mas estupidamente falsa.

Um pouco mais sobre a polarização, antes que avance. Se há, hoje, no Brasil polos que tensionam a corda, tal tensão não é provocada, de um lado, pela extrema-direita e, de outro, pela extrema esquerda. A oposição principal se manifesta entre os que pretendem romper os fundamentos da democracia expressos na Constituição de 1988 (e pouco importa quanto defeitos tenha a Carta) e os que desejam preservá-los.

Sabem por que a "Síndrome da Falta de Centro" tem como demiurgo de sua fantasia literalmente um fantasma? Porque inexiste o meio-termo entre os que querem democracia e os que não querem.

Quando se fala do centrismo como um ente que rejeita as disrupções tanto à esquerda — de caráter revolucionário ou freneticamente reformista a ponto de impedir a consolidação de instituições — como à direita, com suas ações disruptivas de caráter fascistizante, então se está a falar de algo que realmente existe: trata-se da tal "democracia liberal" ou "democracia burguesa", que assumiu, no tempo, muitas vezes, as feições de social-democracia, modelo com o qual a direita conviveu muito bem também para conter a esquerda.

Observem: se a democracia é o meio-termo que rejeita os extremos disruptivos, inexiste um centro virtuoso se o "outro" de um dos polos é o próprio regime de liberdades. Esse lugar implica a morte do próprio regime. Eis aí o que se pode chamar de "Armadilha Turca". O "Partido da Justiça e Desenvolvimento", uma legenda disruptiva de acento religioso, decidiu que o seu "outro" era a democracia laica, que passou a ser tratada como um extremismo. Erdogan é um ditador que vai se perpetuando por meio de eleições, e parte considerável dos democratas está na cadeia.

GOVERNO DE CENTRO-DIREITA?
Num evento com empresários na segunda, o ex-ministro José Dirceu fez a seguinte afirmação:
"O presidente Lula montou um governo que não é um governo de centro-esquerda, não. É um governo de centro-direita. Eu falo isso, todo mundo fica indignado, às vezes, dentro do PT. Porque realmente parte do PL, o PP e o PR, de certa forma, estão na base do governo. Porque isso é exigência do momento histórico e político que nós vivemos. Então acredito que Lula não optou pela polarização ou radicalização. Por que o Brasil está radicalizado, polarizado? Por causa do discurso que foi feito ontem no Rio de Janeiro: que é um fundamentalismo religioso com ataque à democracia. E ainda chamando o apoio da direita internacional e da direita norte-americana: não só do ex-presidente Trump como do Musk. Essa é a realidade que o Brasil está vivendo hoje".

Dirceu alterou a sua fala depois, por meio de nota, e continuou a dizer a verdade, embora deslocando o governo para a centro-esquerda:
"A assessoria de imprensa do ex-ministro José Dirceu (PT) esclarece que ele avalia o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como 'um governo de centro-esquerda, apoiado por partidos de direita', e não um governo de centro-direita, como acabou afirmando durante o Seminário Brasil Hoje, promovido pela Esfera Brasil.
Sua fala se deu no contexto de análise da atual polarização política, reforçando a ideia de que o governo se pauta pelo diálogo, com o ingresso de partidos como PP e Republicanos - 'uma exigência do momento histórico em que vivemos'.
A ideia de um governo de centro-esquerda, apoiado por forças de direita para consolidar uma maioria no Congresso e conquistar uma base social mais ampla já foi externada inclusive em entrevistas do ex-ministro à imprensa."

RETOMO
O governo é de "centro-direita" -- como acho que é -- ou de "centro-esquerda"? Tanto faz. De fato, a "polarização" se dá entre um governo democrático, com forte presença da direita, e o, na expressão do líder petista, "fundamentalismo religioso com ataque à democracia". Silas Malafaia pregou abertamente no evento de domingo que os comandantes militares imponham ao Senado o impeachment de Alexandre de Moraes. Bolsonaro o abraçou no palco e apoiou a mão em seu ombro. O golpista continua a pregar... o golpe.

"Você repudia, Reinaldo, que se tente uma alternativa de centro para a eleição de 2026?" Eu não repudio nada. Quero saber a que, ou a quem, chamam de "centrista", já que, para esses de que falo, o centrismo de Lula — e com viés à direita — não serve. Falaram-me outro dia até de Tarcísio de Freitas para esse posto — aquele que tem Guilherme Derrite como secretário de Segurança Pública, que considera Bolsonaro o maior líder popular do Brasil, que comparece a ato golpista ou que é saudado no palanque do golpismo.

VOLTANDO AO COMEÇO E ENCERRANDO
Iniciei este texto falando sobre os que padecem da "Síndrome da Falta de Centro" e depois apontei que, em muitos casos, trata-se de direitistas que pretendem passar um verniz nas suas convicções. Observei que isso nem seria necessário desde que abraçassem a democracia como valor inegociável.

Encerro trazendo, mais uma vez, Tarcísio ao debate. É evidente que ele goza da boa vontade de parte considerável da imprensa, não? Fiel discípulo de Bolsonaro, busca trânsito também em setores que são hostilizados pelo ídolo. Não abre mão de ser um deles, mas pretende, com Derrite e tudo, exibir uma face mais civilizada.

Qualquer um que se apresente, chame-se Tarcísio ou J. Pinto Fernandes, para ser um "centro" entre a extrema-direita e o regime democrático será apenas e tão-somente o candidato a coveiro da própria democracia. O meio-termo entre o bolsonarismo e a Constituição será só um fascistoide em pele de cordeiro.

domingo, 21 de abril de 2024

Indefeso, Bolsonaro prioriza a demonização do algoz Moraes





Bolsonaro abomina a realidade, mas sabe que é o único lugar onde um político investigado pode arrumar uma defesa decente. Percebendo-se indefeso, o capitão recorre à empulhação de atos como o deste domingo, em Copacabana.

Os quatro anos de sua Presidência caótica revelaram que há sempre duas razões para as estratégias que Bolsonaro adota: a declarada e a real. A concentração de poderes nas mãos de Alexandre de Moraes fornece material para a confusão.

No gogó, Bolsonaro mantém Moraes na alça de mira porque o Brasil está "perto de uma ditadura" e "o mundo toma conhecimento do quanto está ameaçada a nossa liberdade de expressão." No mundo real, o personagem assemelha-se a um náufrago criminal que agarra o jacaré imaginando que é um tronco.

Tridente e chifres

Na composição da fábula do afogado, Bolsonaro e seus operadores escoram-se numa regra importada da propaganda. Baseia-se na personalização. Com um rótulo bem definido, qualquer coisa pode ser vendida.

Mestre da maledicência, Bolsonaro aprendeu em três décadas de vivência política que o mal, como abstração, é difícil de ser enxergado. Mas basta dar ao mal um tridente e um par de chifres e o sujeito passa a ter um inimigo para o qual transferir suas culpas. O demônio do bolsonarismo é Moraes.

A estratégia de Bolsonaro está crivada de ironia. Em 2018, conquistou o Planalto surfando a Lava Jato. Ao acomodar Sergio Moro na sua equipe ministerial, ajudou a arruinar a operação, pavimentando a trilha de suspeição que levaria à anulação das sentenças e à ressurreição de Lula. Agora, tenta grudar em Moraes a logomarca do lavajatismo.

Xerife-Geral da República

O bolsonarismo se esfalfa para colar em Moraes rótulos que o Supremo atribuiu a Moro: um juiz superpoderoso, autoconvertido em Xerife-Geral da República, que concentra em seu gabinete processos de grande repercussão e instrumentaliza o Direito em busca de resultados.

Nessa versão, Moraes mimetizaria os métodos de Moro. Obteve a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid após mantê-lo preso por quatro meses. Como se desejasse produzir um novo delator, conserva atrás das grades desde agosto do ano passado, sem condenação, o ex-diretor bolsonarista da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques.

Na gênese da concentração de poderes nas mãos de Moraes está o inquérito sobre fake news. Foi aberto em 2019 pelo então presidente do Supremo, Dias Toffoli, à revelia da Procuradoria-Geral da República. Moraes foi escolhido relator sem sorteio.

Princípio do juiz natural

Sobrevieram outros inquéritos, como o que investiga os atos antidemocráticos e o que apura as perversões das milícias digitais. Em condições normais, seriam sorteados novos relatores. Mas considerou-se que os crimes sob apuração tinham conexão com o inquérito inaugural.

Desse modo, abriu-se uma brecha para que a defesa de Bolsonaro sustente a tese segundo a qual o Supremo subverte duplamente o princípio do juiz natural. Primeiro porque indeferiu recurso para que Bolsonaro, um ex-presidente sem foro privilegiado, fosse enviado à primeira instância.

Segundo porque o Supremo teria torturado suas próprias regras para manter nas mãos de Moraes todos os inquéritos que aproximam Bolsonaro da cadeia —da falsificação dos cartões de vacina à comercialização de joias da União, passando pelo mais grave: a tentativa de golpe que desaguou no 8 de janeiro.

Mistificação messiânica

Do ponto de vista jurídico, a tática do bolsonarismo é de uma ineficácia hedionda. Não há falatório capaz de eliminar as culpas do investigado. Afora a delação de Mauro Cid, a responsabilidade criminal de Bolsonaro está escorada em sólidas provas materiais e testemunhais.

Sob o prisma político, eventos como o da Avenida Paulista, em fevereiro, e o de Copacabana, neste domingo, fornecem a um investigado metaforicamente jurado de morte a possibilidade de se comportar como se estivesse cheio de vida. Faltando-lhe uma defesa crível, Bolsonaro apela à mistificação messiânica que hipnotiza os seus devotos.

A presença da evangélica Michelle Bolsonaro e do pastor Silas Malafaia nos palanques não é casual. Servindo-se da oratória da dupla, o capitão como que transforma as suas ovelhas em adeptas de uma religião.

Devoção renitente

Potencializa-se uma devoção dogmática que estimula os fiéis do mito a aceitar todas as presunções da divindade presumida a seu próprio respeito. Em matéria criminal, isso inclui concordar com o dogma segundo o qual Bolsonaro tem uma missão na Terra de inspiração divina e, portanto, indiscutível.

Um pedaço do bolsonarismo percebeu em 2022 que era possível fazer quase tudo por Jair Messias, exceto papel de bobo. Desvinculando-se da seita, esse naco do eleitorado preferiu preservar a democracia.

Os devotos renitentes são mais assustadores, porque não estão sendo cínicos. Eles acreditam mesmo que a autocanonização de Bolsonaro dá a ele o direito de desafiar não só a Justiça, mas o próprio bom senso.

Brincando de corda

Escorado na credulidade alheia, Bolsonaro joga com o tempo. Aposta que a evolução do calendário converterá a proteção da democracia, que dá à toga de Alexandre Moraes uma aparência de capa do super-homem, num assunto tão secundário quanto o combate à corrupção, que fez a fama pretérita de Sergio Moro.

Questionando a legitimidade de Moraes, Bolsonaro imagina que poderá livrar-se da inelegibilidade e da cadeia para a qual as provas o empurram esgrimindo questões processuais. Brinca de corda, esticando-a, sem se dar conta da natureza do nó que lhe roça o pescoço.

Proferidas na primeira instância, as sentenças de Moro foram tisnadas pela Vaza Jato e anuladas pela mesma Suprema Corte que julgará as ações penais que o procurador-geral Paulo Gonet se equipa para formular. Para salvar Bolsonaro, o Supremo precisaria anular a si mesmo.

O É DA COISA: Nunes Marques e a decisão sobre bicheiro; Bolsonaro e o golpe

 Alexandre de Moraes como alvo de parte da imprensa é expressão de decadência